Operação procura suspeitos de ter ajudado Dario Messer, considerado o doleiro dos doleiros, a ocultar patrimônio e fugir. Namorada de Messer e outros dois homens foram presos.
Por Arthur Guimarães e Marco Antônio Martins
PF cumpre mandados em mais uma fase da Lava Jato no Rio
O ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes é alvo de mandado de prisão preventiva em um desdobramento da Lava Jato nesta terça-feira (19).
A suspeita é que ele tenha ajudado na fuga de Dario Messer, considerado o doleiro dos doleiros. Messer está preso desde o fim de julho.
A decisão é do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal fluminense, e Cartes terá o nome inserido na Difusão Vermelha da Interpol — a lista de procurados distribuída em aeroportos do mundo todo.
A decisão diz que, em junho de 2018, quando estava foragido, Messer mandou uma carta ao ex-presidente do Paraguai pedindo US$ 500 mil para cobrir gastos jurídicos.
O valor, escreveu Bretas, foi repassado ao doleiro por intermédio de Roque Fabiano Silveira, um dos procurados desta terça-feira.
Até a última atualização desta reportagem, a Polícia Federal havia prendido quatro pessoas de um total de 20 mandados de prisão — os demais estão no exterior.
- Myra Athayde, namorada de Dario Messer, presa no Rio;
- Najun Azario Flato Turner, doleiro, preso em São Paulo;
- Orlando Stedile, preso no Rio;
- Valter Pereira Lima, segurança, preso em São Paulo.
Namorada de Dario Messer, Myra Athayde, fez várias viagens ao Paraguai — Foto: Reprodução
Orlando Stedile, preso na Operação Patrón — Foto: Reprodução/Redes sociais
Najun Azario Flato Turner, preso na Operação Patrón — Foto: Reprodução/TV Globo
A Operação Patrón
A operação, batizada de Patrón, é um desdobramento da Câmbio Desligo. Em espanhol, a palavra significa “patrão” e é o termo reverencial com que Messer se referia a Cartes. O ex-presidente paraguaio é amigo da família Messer.
Desta vez, a ação tem como alvos pessoas que o ajudaram a fugir ou a ocultar seu patrimônio.
A ação visa a cumprir mandados judiciais no Rio, em Búzios, em São Paulo e em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai.
Pedidos de prisão preventiva
- Alcione Maria Mello de Oliveira Athayde
- Antonio Joaquim da Mota
- Arleir Francisco Bellieny
- Cecy Mendes Goncalves da Mota (mãe)
- Dario Messer
- Edgar Ceferino Aranda Franco
- Felipe Cogorno Alvarez
- Horacio Manuel Cartes Jara
- Jorge Alberto Ojeda Segovia
- José Fermin Valdez Gonzalez
- Lucas Lucio Mereles Paredes
- Luiz Carlos de Andrade Fonseca
- Maria Leticia Bobeda Andrada
- Myra de Oliveira Athayde
- Najun Azario Flato Turner
- Roland Pascal Gerbauld
- Roque Fabiano Silveira
Pedidos de prisão temporária
- Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota
- Orlando Mendes Gonçalves Stedile
- Valter Pereira Lima
O G1 não conseguiu contato com as defesas de Cartes e Turner.
Dario Messer quando foi preso e em foto de arquivo — Foto: Reprodução/TV Globo
‘Hermano de alma’
A força-tarefa da Lava Jato afirma que Dario Messer é amigo de longa data de Horacio Cartes.
“O relacionamento da família Messer com a família Cartes se iniciou na década de 80, quando Dario fundou a Cambios Amambay SRL — atual Banco Basa –, tendo como acionista majoritário o pai do ex-presidente”, escreveu Bretas na decisão.
Ainda segundo o MP e a PF, na década de 90, Horacio e Dario adquiriram uma fazenda juntos.
Em 2016, em um evento público, Horacio — já como presidente — declarou que Dario seria seu “irmão de alma” (“hermano de alma”).
Segundo imagens colhidas no celular de Dario em junho de 2018 — logo após a deflagração da Operação Câmbio Desligo —, o “doleiro dos doleiros” encaminhou uma carta para o “Patrão” solicitando US$ 500 mil para seus gastos iniciais jurídicos, que deveriam ser entregues a Roque.
O MP afirma que “Patrão” é Horacio Cartes. “A carta de fato foi entregue e Roque passou a ser intermediário entre Horacio e Dario”, detalha Bretas.
Nos diálogos, Roque informa que o melhor período, indicado por Horacio, para Dario se entregar às autoridades paraguaias seria após 15 de agosto, quando encerraria o mandato de Horacio.
Já em março de 2019, em conversa com a advogada, Dario assinala que Julio, seu irmão que mora em Nova York, conseguiu falar com seu “hermano de alma” e que as coisas iam ficar mais calmas.
Cartes deixou o poder em 2018
O ex-presidente paraguaio Horacio Cartes deixou o poder em agosto de 2018 após cinco anos de mandato.
O empresário, considerado um dos mais ricos do Paraguai, chegou ao poder em abril de 2013. Sua eleição representou o retorno ao poder do conservador Partido Colorado, que dominou a política local durante 60 anos, incluindo os mais de 30 anos da ditadura de Alfredo Stroessner.
A hegemonia do partido havia sido interrompida em 2008, ano da eleição de Fernando Lugo, deposto do cargo em 2012.
O ex-chefe de Estado paraguaio é presidente do Grupo Cartes, um conglomerado de empresas que produzem bebidas, cigarros e charutos, roupas e carnes, além de gerenciar diversos centros médicos.
Ele se associou ao Partido Colorado apenas em 2009. Por isso, quando assumiu a Presidência da República, aos 56 anos, ele era considerado novo na política.
Porém, ele já era muito conhecido por sua trajetória empresarial. Após cursar a universidade nos Estados Unidos, ele retornou ao Paraguai para iniciar sua vida no mundo dos negócios, na empresa do pai, Ramón Telmo Cartes Lind.