Para o virologista Amílcar Tanuri, da UFRJ, um dos maiores especialistas em genética de vírus do Brasil, “o zika nas Américas é uma história em desenvolvimento”. É uma história triste. Faz parte dela a descoberta no fim de semana do zika no cérebro de dois bebês, um deles com microcefalia e o outro com uma devastadora malformação cerebral. Eles morreram logo após nascer. Foram infectados quando as mães estavam por volta da 18ª semana de gestação. E o vírus permaneceu com eles o tempo todo até o nascimento, informou “O Globo”.
Essa é a primeira vez que se mostra o impacto direto do zika sobre o cérebro de bebês no Brasil, o que reforça a tese de problemas congênitos registrados em bebês de mães que tiveram a doença. A pesquisa toda desenvolvida aqui é básica para descobrir como o vírus causa danos e, assim, poder combatê-lo. O poder do zika aumenta, em parte, devido ao desconhecimento. Ninguém sabe como um micro-organismo sem importância se transformou num inimigo letal. “Pobres desses bebês”, lamenta Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ.
A gestação das crianças foi acompanhada pela obstetra e cientista Adriana Melo, do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, em Campina Grande, na Paraíba. Ela agradece às mães. “Não pudemos fazer nada pelos filhos delas. A medicina não tem ainda como oferecer ajuda. Essas moças tiveram zika. Souberam que os fetos tinham sido atingidos. E perderam suas crianças. Essas mulheres tiveram uma grandeza enorme. Doaram os filhos para que outras mães do Brasil não sofressem o que elas e seus bebês sofreram”, afirma Adriana.
Após o ato de total desprendimento, as moças voltaram para suas casas em municípios pobres do sertão da Paraíba, onde o mosquito continua a infestar as valas de esgoto a céu aberto.
Ainda segundo “O Globo”, o estudo pioneiro ainda está em curso. É realizado pelo grupo integrado por Adriana Melo; Amílcar Tanuri; Patrícia Garcez, do Laboratório de Neuroplasticidade da UFRJ e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino; Ana Bispo, do Laboratório de Flavivírus da Fiocruz; e Lorraine Campanati de Andrade, do Laboratório de Morfogênese Celular da UFRJ. Tanuri acredita que uma das chaves para o zika afetar tecidos dos fetos e continuar ativo nos bebês até o nascimento é um mecanismo que a ciência chama de reativação.
A gestante contrai o zika e ele não só atravessa a placenta e chega ao feto, quanto se oculta nas células de mãe e filho. Semanas após a manifestação dos primeiros sintomas, como dores e erupções na pele, a mãe sente “a volta do zika”. Tem de novo dores e outros sintomas. Algumas das mães de bebês com microcefalia relataram ter tido zika duas vezes. O pesquisador observa que, mesmo que a mãe não apresente sintomas de “uma segunda zika”, o feto pode continuar a sofrer.
Fonte: Notícias ao Minuto