Por Filipe Matoso e Gustavo Garcia, G1 — Brasília*
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (28) ser uma “pena” que o sargento Manoel Silva Rodrigues tenha sido preso na Espanha, e não na Indonésia.
Bolsonaro deu a declaração ao conceder uma entrevista coletiva em Osaka (Japão), onde participa da cúpula do G20.
Na última terça (25), o sargento da Força Aérea Brasileira foi preso no aeroporto de Sevilha com 39 quilos de cocaína. Rodrigues atua como comissário de bordo numa aeronave que, segundo a TV Globo apurou, faz a rota presidencial antes do avião do presidente da República.
“Aquele elemento ali traiu a confiança dos demais. Traiu a confiança, sim. Olha, pena que não foi na Indonésia. Eu queria que tivesse sido na Indonésia, tá ok? Ele ia ter o destino que o Archer teve no passado”, afirmou o presidente da República.
Em janeiro de 2015, o brasileiro Marco Archer foi executado na Indonésia por ter sido condenado à morte por tráfico de drogas. Em 2004, ele havia sido preso no país tentando entrar com 13 quilos de cocaína.
Três meses depois, em abril de 2015, o brasileiro Rodrigo Gularte também foi executado na Indonésia pelo mesmo motivo. Ele havia sido preso em 2004 por tentar entrar no país com 6 quilos da droga.
Conforme o Artigo 5º da Constituição Federal, que trata dos direitos e garantias fundamentais, não haverá pena de morte no Brasil “salvo em caso de guerra declarada”.
Segundo o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o sargento Manoel Silva Rodrigues será julgado no Brasil e na Espanha “sem condescendência“.
‘Militar preso com cocaína será julgado sem condescendência’, diz ministro
Rota de Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro decolou de Brasília na noite de terça-feira (25) em direção a Osaka para o G20.
A agenda inicialmente divulgada pela assessoria de Bolsonaro previa escala em Sevilha, onde o militar da Força Aérea foi preso.
Numa agenda posteriormente enviada pela Presidência, contudo, a escala passou para Lisboa (Portugal). Fontes militares disseram à TV Globo que a rota mudou em razão da prisão do militar
Três pessoas ligadas ao ministro do Turismo são presas em investigação sobre laranjas
Ministro do Turismo
Ainda na entrevista coletiva concedida em Osaka, Bolsonaro também foi questionado sobre a situação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL).
Nesta semana, um assessor especial do ministro foi preso pela Polícia Federal em uma operação que apura supostas candidaturas laranjas do PSL. Integrantes da legenda são suspeitos de indicar falsas candidatas às eleições para desviar recursos.
Bolsonaro disse que não há nada contra o ministro, mas, “providências” serão tomadas se houver algo “robusto”.
“Se prender um assessor meu aqui, não quer dizer que eu seja culpado de alguma coisa. Conversei com Sergio Moro rapidamente sobre isso, porque a prioridade nossa aqui é outra. Ele mandou a cópia do que foi investigado pela Polícia Federal para mim, mandei um assessor meu ler, porque não tive tempo de ler. E, voltando ao Brasil, vou me reunir com Sergio Moro”, disse o presidente.
Jair Bolsonaro acrescentou que ter determinado a Moro que mande a PF investigar todos os partidos em que candidatas receberam grande quantidade de recursos e obtiveram poucos votos. “Tem que valer para todo mundo e não ficar fazendo pressão em cima do PSL para tentar me atingir”, afirmou.
Questionado sobre a permanência de Marcelo Álvaro Antônio no governo, Bolsonaro disse que “até segunda-feira (1º), os 22 são ministros”.
‘Psicose ambientalista’
Bolsonaro também comentou uma conversa que teve com a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, nesta sexta (28). Ao chegar ao Japão para o G20 na quinta-feira (27), o presidente havia dito que a Alemanha tem “muito a aprender” com o Brasil sobre questões ambientais. Antes disso, a líder alemã disse que queria conversar com Bolsonaro sobre o desmatamento no Brasil.
“Tivemos, pela mídia, uma posição da senhora Angela Merkel, que ela iria me procurar para tirar satisfações nas questões climáticas no Brasil. Tomei conhecimento, dei uma resposta nas nossas mídias sociais e houve um encontro nosso aqui em Osaka. Conversei com ela, foi uma conversa tranquila. Em alguns momentos, ela arregalava os olhos. De maneira bastante cordial, mostramos que o Brasil mudou o governo e é um país que vai ser respeitado. Falei pra ela também da questão da psicose ambientalista que existe para conosco”, disse o presidente.
Bolsonaro afirmou também que os países de primeiro mundo foram acostumados a tratar os brasileiros como “colonizados” e que faltava alguém para mostrar o país “merece ser respeitado”.
O presidente Jair Bolsonaro e o presidente dos EUA, Donald Trump, durante encontro em Osaka; os dois são contra o regime de Nicolás Maduro — Foto: Alan Santos/PR
Embargo a aliados da Venezuela
Bolsonaro também foi questionado se é favorável à imposição de sanções a países aliados à Venezuela, caso de Cuba.
O presidente, então, disse que precisaria conversar com os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, além de ouvir o Conselho de Defesa sobre o assunto, mas afirmou defender embargo.
“Eu seria favorável a isso, mas a maioria é que decide uma medida nesse sentido. Eu, particularmente, concordo com medidas dessa natureza, de embargos, contra países que estão alinhados com a Venezuela e que não têm qualquer compromisso com a liberdade”, afirmou Bolsonaro.
Em seguida, o presidente foi questionado especificamente sobre China e Rússia, países considerados próximos ao regime de Nicolás Maduro.
“Aí é outro nível. Mas é lógico: tudo tem hierarquia. Eu não vejo chineses dentro da Venezuela. Eu não vejo russos, a não ser alguns punhados de militares lá dentro, e nós sabemos que esses 60 mil cubanos estão lá de maneira parecida como estavam os 10 mil ditos médicos cubanos no Brasil. É coisa bastante semelhante”, declarou o presidente brasileiro.